AMOR SEM SENTIDO

Tu me pedes que eu seja.

Me tomo pelas minhas mãos,

Já cansadas de tantas conduções,

Vou lá e me transformo,

Com o corpo em carne viva,

No que de mais belo posso ser.

Depois, sem mais nem menos, queres que eu deixe de ser

Todos os caminhos que abri.

E lá vou eu, sem eira nem beira, povoar ruas escuras.

- Jogo fora todas as minhas valiosas experiências.

Tu me pedes que eu tenha.

Andarilho sem bens nem heranças,

Deixo as ruas por onde existo,

Vou lá e me empenho,

Com os nervos à flor da pele,

Para ter o que de mais caro posso ter.

Aí me pedes que eu me livre

De todos os sorrisos que inventei.

E lá vou eu, pobre de espírito, buscar o meu tormento.

- No lixo ficam as tantas coisas que tanto me custaram.

Tu me pedes que eu faça,

E eu, feito o Corcunda de Notre Dame,

Apaixonado por uma Esmeralda insensível,

Vou lá e me mutilo,

Das tripas então faço o coração,

E te conquisto o mais belo dos mundos.

Então, descontente e infeliz me mandas desfazer

Todas as plásticas que me serenaram.

E lá vou eu, médico e monstro, suturar todas as feridas.

- Torno-me a cicatriz exata de um amor sem sentido.

Haja paciência!