O AMOR FICOU SÓ

Sinto-me um homem num mundo paralelo

Num mundo cheio de curvas penso reto

Procuro meus elos na simplicidade das palavras

No avesso da complexidade de nossas vidas

Minha força está em minha sensibilidade.

Minha fraqueza está na minha sensibilidade

Ainda assim sou um homem.

Um homem que passa as noites negras,

cercadas por garrafas vazias,

enquanto minha mente transborda em idéias malucas.

Recuso-me a cortar relações com o amor,

logo eu um romântico incorrigível.

Sinto tanto a falta de carinho,

que ficaria sem sexo em troca de um beijo e de uma abraço.

Por mais que pareça fora de nexo.

Claro que guardo em mim um vulcão à espreita.

O gozo de outrora está represado na minha abstinência de tesão.

Fecho os olhos e imagino aquele corpo nú,

minha mãos percorrendo as curvas de um penhasco azul anil

enquanto dois olhos verdes brilham num tempo de outra dimensão

Não sou apenas um membro.

Sou tronco, sou pernas e braços, sou coração.

Não sou completo sem a minha metade.

Minha completa tristeza me deixa em pedaços.

Pelos cantos do quarto que exala o cheiro do mofo

me desfaço em trapos

Sobrevivo teimosamente em minhas frases

Injustamente me considero um escritor.

Nada mais sou que um sujeito repugnante

um anti herói viciado em espantar as pessoas

De tanto querer alguém,

fui recompensado com a solidão.

Na minha vida real, sem disfarces e sem retoques,

sou pouco menos que um indigente

Minha existência perdeu a razão de ser

Neste momento estou sóbrio o bastante para entender:

mereço tudo de ruim que acontece comigo

Sou culpado até do que não fiz

Eu sou o meu juiz, eu sou meu carrasco.

Sou um homem muito raso,

e por isso guardei o meu lugar num vácuo profundo,

onde rastejam as almas em suas alegorias e mortalhas.

Deep Blue
Enviado por Deep Blue em 23/04/2009
Reeditado em 15/12/2009
Código do texto: T1555130
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