O AMOR FICOU SÓ
Sinto-me um homem num mundo paralelo
Num mundo cheio de curvas penso reto
Procuro meus elos na simplicidade das palavras
No avesso da complexidade de nossas vidas
Minha força está em minha sensibilidade.
Minha fraqueza está na minha sensibilidade
Ainda assim sou um homem.
Um homem que passa as noites negras,
cercadas por garrafas vazias,
enquanto minha mente transborda em idéias malucas.
Recuso-me a cortar relações com o amor,
logo eu um romântico incorrigível.
Sinto tanto a falta de carinho,
que ficaria sem sexo em troca de um beijo e de uma abraço.
Por mais que pareça fora de nexo.
Claro que guardo em mim um vulcão à espreita.
O gozo de outrora está represado na minha abstinência de tesão.
Fecho os olhos e imagino aquele corpo nú,
minha mãos percorrendo as curvas de um penhasco azul anil
enquanto dois olhos verdes brilham num tempo de outra dimensão
Não sou apenas um membro.
Sou tronco, sou pernas e braços, sou coração.
Não sou completo sem a minha metade.
Minha completa tristeza me deixa em pedaços.
Pelos cantos do quarto que exala o cheiro do mofo
me desfaço em trapos
Sobrevivo teimosamente em minhas frases
Injustamente me considero um escritor.
Nada mais sou que um sujeito repugnante
um anti herói viciado em espantar as pessoas
De tanto querer alguém,
fui recompensado com a solidão.
Na minha vida real, sem disfarces e sem retoques,
sou pouco menos que um indigente
Minha existência perdeu a razão de ser
Neste momento estou sóbrio o bastante para entender:
mereço tudo de ruim que acontece comigo
Sou culpado até do que não fiz
Eu sou o meu juiz, eu sou meu carrasco.
Sou um homem muito raso,
e por isso guardei o meu lugar num vácuo profundo,
onde rastejam as almas em suas alegorias e mortalhas.