O Leão e a Gazela
Numa savana qualquer,
um leão e uma gazela.
A fome do predador
e a saltitante presa viva.
Acorda o instinto do felino:
caçar para saciar a fome.
A estratégia de ataque
que gera a ação fulminante,
seu golpe fatal.
Agita-se a vegetação,
tem início a perseguição,
corações disparados.
A eficiência convertida
em alimento para um,
será a morte para a outra.
Uma luta desigual,
força contra alvo indefeso,
sem possibilidade de fuga,
sem chances.
O herbívoro está cercado.
Pelas leis da natureza
está definitivamente perdido.
Porém, o insólito intervém.
Vê-se o grande gato estagnado
a olhar o pavor da vítima.
O forte felino pousa
o seu olhar agressivo
sobre a já resignada
expressão da presa.
Uma corrente elétrica
parece passar pelo musculoso
e ágil corpo.
A quase refeição
também fica estática
ante o magnetismo
daquele terrível olhar.
E a surpresa: a fera se amansa,
enquanto o outro quadrúpede
ganha coragem.
Fosse possível imaginar
que os animais sorriem,
ali ocorreu uma troca de sorrisos.
A fome do voraz leão contentou-se
com alguma coisa mais sutil
e serenou-se.
De fato,
não conseguia abater
tamanha beleza e graciosidade,
cheia de terna leveza.
É certo que não tinha
a sedução das leoas,
mas toda aquela fragilidade
lhe tocava o duro coração.
A pobre gazela,
tomada por possível insanidade,
não fugiu para aproveitar
o momento de hesitação.
Como que hipnotizada,
não conseguia retirar
os seus olhos meigos
de seu enorme algoz.
A fúria fria e obstinada
do carnívoro
foi abrandada por uma brisa morna
que lhe vinha do peito.
Do alto de seu orgulho viril
de tenaz caçador sentiu algo novo,
como que vergonha
por sua brutalidade.
Ardia-lhe doloroso desejo,
de que ele não fosse mais
um leão,
de que ela não fosse mais
uma gazela.
Revoltou-se contra o abismo
da natureza que de fato
os separava em extremos
da cadeia alimentar.
Vontade exigente,
soltou alguns urros assustadores
enquanto media a excessiva distância.
O empecilho era intransponível.
E novo aprendizado:
pela primeira vez o felino
se resignava.
A gazela,
que parecia perceber a tudo
como se fossem telepatas,
intimamente preferia ser devorada.
Afinal, melhor seria não chocar
com tamanha impossibilidade,
tão incomum na vida dos bichos.
Com tantas leoas,
com tantas gazelas machos
e esta estranha e descabida atração...
Mas algo mudou no leão.
Por alguma estranha modificação
decidira não mais devorar gazelas.
Uma decisão
que só as vontades férreas
sabem tomar.
Pelo contrário, resolveu proteger
a todas gazelas.
Difícil decisão,
mas na sua impulsividade
resolvera dedicar-se
àquela meiga criatura.
E foi assim
que o grande predador
transformou-se em protetor.
Passou alguma fome
até descobrir as frutas,
mas o fato é que
com sua fúria foi guerreiro
a defender o grupo,
inclusive abatendo outros leões.
Transformou-se no louco da savana,
mas por ser forte e obstinado
conquistou para a paz outros leões.
É foi assim que a força,
ao menos momentaneamente,
passou a defender a paz.
E foi-se o tempo,
morreu o leão em combate,
morreu a gazela de desgosto,
mas ficou meio que a assombrar
os outros bichos
aquele estranho amor
nascido das impossibilidades.
Numa savana qualquer,
um leão e uma gazela.
A fome do predador
e a saltitante presa viva.
Acorda o instinto do felino:
caçar para saciar a fome.
A estratégia de ataque
que gera a ação fulminante,
seu golpe fatal.
Agita-se a vegetação,
tem início a perseguição,
corações disparados.
A eficiência convertida
em alimento para um,
será a morte para a outra.
Uma luta desigual,
força contra alvo indefeso,
sem possibilidade de fuga,
sem chances.
O herbívoro está cercado.
Pelas leis da natureza
está definitivamente perdido.
Porém, o insólito intervém.
Vê-se o grande gato estagnado
a olhar o pavor da vítima.
O forte felino pousa
o seu olhar agressivo
sobre a já resignada
expressão da presa.
Uma corrente elétrica
parece passar pelo musculoso
e ágil corpo.
A quase refeição
também fica estática
ante o magnetismo
daquele terrível olhar.
E a surpresa: a fera se amansa,
enquanto o outro quadrúpede
ganha coragem.
Fosse possível imaginar
que os animais sorriem,
ali ocorreu uma troca de sorrisos.
A fome do voraz leão contentou-se
com alguma coisa mais sutil
e serenou-se.
De fato,
não conseguia abater
tamanha beleza e graciosidade,
cheia de terna leveza.
É certo que não tinha
a sedução das leoas,
mas toda aquela fragilidade
lhe tocava o duro coração.
A pobre gazela,
tomada por possível insanidade,
não fugiu para aproveitar
o momento de hesitação.
Como que hipnotizada,
não conseguia retirar
os seus olhos meigos
de seu enorme algoz.
A fúria fria e obstinada
do carnívoro
foi abrandada por uma brisa morna
que lhe vinha do peito.
Do alto de seu orgulho viril
de tenaz caçador sentiu algo novo,
como que vergonha
por sua brutalidade.
Ardia-lhe doloroso desejo,
de que ele não fosse mais
um leão,
de que ela não fosse mais
uma gazela.
Revoltou-se contra o abismo
da natureza que de fato
os separava em extremos
da cadeia alimentar.
Vontade exigente,
soltou alguns urros assustadores
enquanto media a excessiva distância.
O empecilho era intransponível.
E novo aprendizado:
pela primeira vez o felino
se resignava.
A gazela,
que parecia perceber a tudo
como se fossem telepatas,
intimamente preferia ser devorada.
Afinal, melhor seria não chocar
com tamanha impossibilidade,
tão incomum na vida dos bichos.
Com tantas leoas,
com tantas gazelas machos
e esta estranha e descabida atração...
Mas algo mudou no leão.
Por alguma estranha modificação
decidira não mais devorar gazelas.
Uma decisão
que só as vontades férreas
sabem tomar.
Pelo contrário, resolveu proteger
a todas gazelas.
Difícil decisão,
mas na sua impulsividade
resolvera dedicar-se
àquela meiga criatura.
E foi assim
que o grande predador
transformou-se em protetor.
Passou alguma fome
até descobrir as frutas,
mas o fato é que
com sua fúria foi guerreiro
a defender o grupo,
inclusive abatendo outros leões.
Transformou-se no louco da savana,
mas por ser forte e obstinado
conquistou para a paz outros leões.
É foi assim que a força,
ao menos momentaneamente,
passou a defender a paz.
E foi-se o tempo,
morreu o leão em combate,
morreu a gazela de desgosto,
mas ficou meio que a assombrar
os outros bichos
aquele estranho amor
nascido das impossibilidades.