Pedra fundamental
As suas pupilas, astros luminosos
Explodem em incandescências pelo ar
E prega-se ao meu corpo, o seu olhar
Com a agonia de cristais em chamas
A sua pele queima nos meus dedos
E se derrete, e sobre o chão derrama
O brilho d’ouro intenso que declama
Qualquer poeta que a enxergue bem
E esse brilho oculto sob a rocha
Que pouco é visto e não é de ninguém
Um dia há de ser entregue a quem
Muito bem faça em tê-lo lapidado
A sua voz, terna, lua branca
Transborda, cheia, na minha mente lagos
E escorre pelos olhos alagados
Bem como a chuva negra sobre o chão
E as suas pernas encontrando as minhas
Chocam-se e cruzam-se, qual dois irmãos
E as batidas do seu coração
Tocam em mim os coros mais bonitos
E o seu rosto, a noite, me assombra
Como talhado em um grande monólito
E os seus lábios, rios infinitos
Refletem nos meus lábios fios d’âmbar
- E cravam suas veludosas sombras
Na solidão dum peito de granito!