ÚLTIMO ADEUS
Acabado o amor, linda mulher,
encerrado o deleite, minha única amante,
resta soprar as velas do crepúsculo,
mortos os sonhos na louca desolação da noite,
tudo o que dissemos, os segredos da cama
guardados permanecem nos muros da cidade fantasma,
apenas o corcunda que nos entregou as chaves
do quarto sabe quem de nós dois amou de verdade.
Enterrados os planos, abandone os significados,
as faces mortas mergulhadas na escuridão,
debaixo das flores precipitadas no abismo
o anjo apodrece - o sorriso rasgado pelas formigas,
quando novamente olhar dentro dos teus olhos
o espírito que te amou acabará em chamas
ao som das flautas sagradas da última floresta,
e tudo o que resta um silêncio de solidão e prece.
Não perca o seu tempo comigo, criança da luz,
meu caminho é a noite, aonde
encontramos luxúria e depravação esconde
as sombras que tramam a peripécia que ao erro induz.
Fuja enquanto pode, mulher linda,
na minha alma o anjo que rasteja urra
e o sol apagado é um pedregulho, se o céu
é o garrancho dos meus sonhos deito na clareira
e chamo pela história finda.
Nada mais espere de mim
apenas o despertar sagrado
me devolve ao esquecimento completo,
aonde vou não há corpo para o amor.
Esqueça o amor, mulher linda,
deixa p'ra trás os planos, amante ainda,
tudo o que for sonho deixa na estrada
oferece o último adeus ao anjo da madrugada
- uma gota de sangue dá de comer ao mendigo da alma