As grandes inteligências...

De modo geral

As grandes inteligências vivem sós...

Não porque que se deliciem na solidão

Mas porque temem

Companhias erradas.

Então preferem viver sós

Em meio a um grande número de gente...

... Mas não há quem escute suas músicas

E suas poesias andam errantes pela suas casas

Sem ter quem as escute...

Tocam no piano belas melodias...

Cantam...

- Mas quem lhes acolhe a vida?

- Com quem compartilham seus sonhos?...

- Com a casa vazia...?

Há tanto receio nas almas dos que pensam demais...

- Valerá à pena arriscar?...

Não haverá na terra uma alma gêmea

Que compartilhe o seu falar?...

Não é o egoísmo que cerca as grandes inteligências

Que vivem tão sós...

-É o medo e amar...

É o medo de se terem de calar...

É o medo de se enganar

com belas formas e apaências,

vazias...

Enquanto isto, lá fora, colhe a chuva

As lágrimas de quem os podia acompanhar...

Lágrimas de emoção e de ternura,

Lágrimas de admiração e encantamento,

Lágrimas que seus olhos vêm beijar...

O sucesso sem ter com quem compartilhar

Parece-me tão vazio... Embora espetacular.

Valerá à pena envelhecer assim

Sem ter um par de olhos embevecidos

E extasiados a nos escutar?...

Bastam as paredes vazias

Sem as ter com quem partilhar?...

Vai alta à noite... Um par de mãos

Voam na direção de grandes inteligências

Para um carinho

Desinteressado...

- Mas alguns, os homens,

Preferem o prazer comprado...

A liberdade tem seu preço! Mas...

Ser admirado

Não é a mesma coisa do que ser amado!...

Eu admiro as grandes inteligências...

Mas me admiro que lhes falte tempo

Até mesmo para cultivar o amor...

Um dia olharão para trás...

E verão seus passos sozinhos

A receber os louros

De suas vitórias...

Mas com quem os repartirão?...

Lamento a vida dos ermitões...

Talvez eu tenha também escolhido este caminho.

- Opções de vida!...

Será?...

E as grandes inteligências

E eu,

Embora não tenha sido aquinhoada

Pela grande inteligência,

E a elas não pertença,

Iremos por longos caminhos

Esperando ver um sorriso atrás de cada curva

E um par de braços a nos acolher

E vibrar conosco, com nossas vitórias...

Esperamos tanto... Idealizamos tanto...

Queremos tudo... E temos apenas nada...

E depois... Morrer!...

- Não deixaremos ninguém de luto!

Encomendaremos carpideiras

Para que chorem na hora derradeira.

- E ninguém, da vida, nos apanhará o fruto...

Seremos efêmeras lembranças...

Que depois se vão...

- Minhas cinzas adubarão o pé de uma roseira!...

As tuas?... Para onde irão?...

E nós, todos nós,

Para onde iremos?...

Que bagagens haveremos de levar

Na viagem ao Sem Fim?...

Nossos livros?... Nossas músicas?...

Nossas vozes já gravadas?...

Nossas idéias, poemas?...

... Seremos etéreos sonhadores

Cantando nas noites de lua...

... Fantasmas do que já fomos...

Lembranças do que já não somos...

E a ampulheta que não pára

A nós, nos levará

Ao tristonho esquecimento...

“Fomos” algum dia?...

- Fomos?...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 18/04/2009
Código do texto: T1546077
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