AQUELE NOSSO TERNO ABRAÇO

Querias que te falasse de coisas frias

De blocos de gelo e aquosa solidez

Querias tanto que nem respondias...

Como te emocionavas

À pausa congelada de minha voz,

Entrecortando-a por tantos prantos

Mas chorar tu querias tanto...

Tu te lembras o quanto?

Querias que te falasse de nós e das dúvidas

Que nos assolavam quanto à brevidade

Dos sentimentos que nos unia

Tu imersa, sem entender-se, às lágrimas...

Vertendo cubos cristalizados de ironia

Querias... Apenas escutar o tom de minha voz

E eu queria tanto ver-te naquele estado

Que falava, falava e repetia

E me desdobrava em desencavar assuntos

A fim de não cessar nunca

Meu refinado e resfriado discurso

Tu te lembras, bem sei...

Mas todo esse gelo transformou-se em pântano

E minha língua enferrujou um outro tanto

Foi assim que o silêncio tomou o ar, de vez...

E o pouco que restava de quente

Naquele nosso terno abraço

Transformou o outrora fresco em frigidez...