Em busca do amor-deserto
À espera do amor-deserto
Já é tarde
O sol se põe
Atrás daquelas dunas de areia
A lua sobe ao céu
Uma estrela cai no mar
E o gavião para saciar sua fome
Desce às águas a pescar.
Já é tarde
O vento sopra forte
As mulheres em suas tendas
Dormem...
Mas a areia do oásis
Cortam
E me moem
Expelindo sangue
Pelas montanhas de areia.
Já é tarde
O deserto não tem sono
E nunca terá
O deserto é vigia
da noite;
do dia;
vigia os horizontes que fazem parte de um outro mundo.
Já é tarde
Para que eu feche os olhos
E sonhe...
Por de trás do nascer do sol
Quero ver o que aquele brilho esconde
E por mais que as areias rasgem meu peito
Não me contento,
Em ser apenas carne e pano sangrento.
Quero fazer parte
De cada grão cortante
Dessa natureza berrante
Porém...
Já é tarde
É tarde pois,
Minha visão se perdeu
Nos detalhes desse mundo
Caminhando entre tendas, barbas e camelos
Sem poder morrer aqui.
Meu amor me espera
Na miragem desse deserto
Com corpo, coração, vida.
Alma.
A me tascar um doce beijo.
Cheio de cacos
Mas lisonjeando a saudade do eterno
E do temporário.
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O que acontece comigo?
Eu me vejo lá fora
Vagando...
Mas eu estou aqui dentro
Trancado.
Com as grades na janela
Eu vejo o tempo passar...
Aqui dentro,
No meu íntimo
Nada se move
Flutua...
E debruço minhas faces,
No vazio de minha alma
Parada...
Esperando o sol se pôr
Porque lá fora ele brilha forte
Queima.
Mas dentro de mim chove
Faz frio...
E não tenho tua pele para me cobrir.
E o vento sopra...
Trazendo as areias do oásis
Que me cortam
Derrama sangue
No vidro da janela-alma.
E grito.
Ninguém me ouve
Somente o deserto
E me calo.
A indiferença me olha
E faz desse meu momento perdido...
Meus olhos seguem,
Correm pela rua que não existi
A noite cai na Terra
E agora é hora
D’eu dormir
Porque esperei o sonho me ninar
Para ter o meu amor em meus braços.
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Quando o sol nasce
Vem beijar minha face
Meus olhos se abrem
Na direção de sua luz
Ilumina-me e embaça o que procuro.
Sobressaltado, eu corro
Corro...
Sem ter destino
Com os pés descalços
Sinto os cacos da areia perfurante
Agora já areia-sangue
Mas não sinto dor
Porque eu vejo...
O sereno do sol esfumaçando o deserto
E de longe posso ver...
Ah! meu tão esperado amor
Já inalo o seu perfume;
já me sinto uno ao seu corpo;
sinto-te...
sinto-te...
A noite toma conta de nossos horizontes
A brasa do sol cede lugar ao luar
E o meu suspiro de felicidade
Contempla a lua
Bela...
E o vento soa frio...
E minhas lágrimas surgem
Translúcidas
Para enxergar a miragem
Pois é só miragem que vejo
E sinto...
Miragem...
Assim tu és.
Miragem...
Não tem problema
Eu faço amor com a lua
Porque sou também uma miragem...
Tatiana Bastos