Estranheza
Estranho,
O vento não é úmido e não me cede
Mais delícias frias e subjetivas
E as gotas de orvalho não escorrem entre os cedros
Que tombam todo dia nas florestas.
Não vejo mais lagartas em casulo;
Nem vejo mais coroas em castelos;
Nem vejo boas noites para serestas;
Nem reivindicações da natureza.
Eu vejo tudo pronto. Tudo certo.
Estranho não te ver quando eu não quero
E nem ter na cabeça a certeza
E se, francamente, não queres que eu me prenda,
Estranho, pois me laça de repente.
O fogo já não esquenta plenamente,
O sol não acalenta o corpo inteiro,
Que há parte de mim escondendo-se à sombra
Dos meus gestos.
Já não entendo suas falas totalmente.
Já não sinto a força do seu beijo no meu rosto.
Nem a carne do seu rosto nos meus lábios.
Estranho, que a beleza permanece.
E eu não estou mesmo te esquecendo.
Porque os odores primaveris ainda inundam minhas narinas,
E as imagens nos meus olhos continuam distorcendo
A ti.
Estranha essa saudade que eu sinto
De tempos que ainda não são nem passado
E que meu corpo prossegue remoendo
Sem dó, objetivo, sem escusar-se...
Essas memórias depostas do meu ser
Que a pele elimina pelos poros.
Porque se estão por dentro queimam lânguidas,
Um fogo de calor aveludado, que quase a aprazível se atreve;
Como um chama escura e sombria;
Como uma nuvem fria e passageira;
Como uma porta semicerrada;
Como esquecer a noite, velar a cama, selar a mente, não dormir
E nem perceber
Estranho eu achar que não te tenho
Se em rever-te jaze o meu prazer;
E a sua imagem na retina a derreter,
Desmantela a dor e a chaga que contenho