Tenuidade

Não haja um traço de rancor em nossas vozes.

Não haja um demarcado final (triste) aos meus intentos

Não haja uma linha de chegada frustrada. Não haja uma saída apressada.

Não haja um traço de horror em nossas costas.

Em mim não haverá nada demais por fora, de mim não vão tirar nem mais um grito.

Não haja um traço de bolor em nossos sonhos.

Como não haja mofo a inutilizar a película, o filme, dos meus olhos, para os seus olhos.

Minha visão sua. Encantada, ensandecida, encontrada, em você.

Como não haja esse deboche sádico. Esse que só eu vejo, que é sem querer.

Não haja a ilusão prodigiosa do desprendimento mútuo, do entendimento mútuo

Do passou, passou.

Não haja a emoção de um lado só (do meu) a me provocar tremores e a despertar ternuras no meu peito

Não haja o desentendimento. Não haja a briga. Não haja sequer um abraço partido

Ou um beijo perdido.

Não aja mais amigo. Mais amante. Muito menos como só um conhecido.

Aja antes, aja como nunca foi.

Não vamos desmontar nossos castelos. Não vamos esquecer nossos dinheiros.

Não vamos simplesmente deixar.

Não haja, nos quatro olhos uma só lágrima. Nem haja um perdão, ou dois perdões.

Não vamos nos curvar aos mais demostivados ‘eu te amo’s só para preencher a frustração.

Que haja traços de amor em nossas vozes. Se um dia o amor nos tocar.

E que haja, nesse dia, vidro em nossos olhos, a transparecer por dentro o brilho de nossas mentes, o pulsar de nossos peitos

Que não haja mais visões tão limitadas,

Imitações de vida.

Não haja mais mal entendido,

Mal explicado,

Meio-escondido. Meio-contado. Meio-gostado.

Que nossos novos ‘eu’s se amem. Como mais que se ama qualquer um amigo.

Que haja em mim ainda o tal estímulo. Para mudar meu mundo pelo nós.

Mesmo sabendo que não ‘nós’ mais seremos.

Mesmo sabendo que eu estou sozinho. Não em corpo, mas em mente.

E minha mente anda se perdendo. Vagando entre o alvoroço e a reclusão.

Que eu não sei se escrevo ou se grito.

Não sei se amo ou se esqueço

Não sei se espero o impassável passar.

Quem dera a sua mente pensasse igual a ‘saudade’ que escreveu a tal poeta.

Quem dera que não fosse tão difícil, para mim, sentir.

Mas lembro de tantas vezes, tantas coisas.

E ouço tantas músicas da tua boca.

E escrevo tanta droga.

Que não a tiro de mim. Assimilo-a.

E é (será) difícil tê-la como o passado. Pois é ainda tão presente e leve.

E é ainda tão encantadora. Que não me canso de arrepender-me tanto.

Em vê-la, falá-la, ligá-la, cantá-la, pensá-la. Sonhá-la.

Mas sei que já me tem como pretérito. E sei que já não sou mais um pedaço

Esburacado

Da sua vida.

Sei que me esqueceu, já.

Essa despedida erma que não lembra, em nada, a outra.

Sua despedida doce e muito próxima.

Sua mão na minha cabeça, que eu demorei para me acostumar.

Sua mão nas minhas costas, e minha respiração contínua, fraca.

Seus lábios no meu rosto, ardendo, pulsando

E por um segundo eu sentia o seu coração. Dos seus lábios para o meu rosto.

Do meu rosto para o meu corpo inteiro. E eu a sentia toda.

Até meu peito.

Que se ajustava em uníssono, unirritmo,

Com o seu.

Contando o tempo até vê-la de novo.

Essa despedida que você esqueceu.

E que me deixava tolo, frouxo e louco.

E por um instante me deixava todo.

Haja o aproximar de nossos braços.

Não haja o divorciar dos nossos atos.

Não haja o desapego de nossas mentes.

Não haja o atar de nossas bocas.

Não haja o apagar desses momentos.

Ternos, tolos, inebriantes, alentadores, intensos, em sua sutileza

Indecifráveis, inquebrantáveis, inquebráveis;

Inseparáveis do meu ser.

Inesquecíveis, inesquecíveis.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 05/04/2009
Código do texto: T1524101