Espaço
Não há lugar para arrependimento
No meu peito dorido e infantil,
No meu corpo trincado e macio,
Não há lugar pra tanto desalento
Não há resposta à questão que baste
Para paralisar em mim tormentos
Pr’incendiar em mim o pensamento
Não há saída mais por onde entraste
Não há na tempestade uma só gota
Que não reflita o sol da meia-tarde
Que não me lembre o fogo que ‘inda arde
E encerra no meu leito a dor devota
Não há no coração litros de sangue
Que andem nas artérias ao rever-te
E não pulsem nas veias ao ouvir-te,
Que não se espalhem ao ouvir teu nome
Não há entre as sinapses um espaço
Que não esteja repleto de ti
De hora em hora tenho-me a carpir
Que os meus nervos não são fios d’aço
Não há eternidade em poucos versos
Que chore a intensidade do instante
E que não valha a folha irradiante
De um branco em que se apaga o universo
Não há lugar para arrependimento
Na sombra que se agrega à minhas pupilas
Nessa loucura sóbria que destilas
Não há lugar para ressentimento
E mesmo nos momentos mais tristonhos
Não há lugar para arrependimento!
Não há lugar para arrependimento!
Nessa treva na qual me decomponho