Partida (ou o retorno do recesso)
Tornou-te outra.
Qual o oscilar de uma canção no vento
Que aos ouvidos já soa diferente. Não em outro tom, mas em outro ritmo.
Qual um sorriso de contentamento
Que aos bons olhos é uma dor silente. Não uma dor deveras, mas uma ferida.
Tornou-te outra, mas o fez ao contrário
Já foste a cópia, agora mais não. Agora és tu, tu que não conheci.
E passo a conhecer.
Tornou-te outra. Tornou-te a.
Se há mudado para mais ou menos já é muito inquirir.
Que eu sei que te tornaste outra
Outra, de menos sossego e de mais desconcerto
De menos medidas, de menos acertos
De muito mais vida.
Intrínseca em ti, ainda está a antiga.
Mas não mais a és. E nunca a foste.
Tua vida é a de agora, sua cabeça é a de agora.
Eu sou-te agora.
Já foram loucuras bastantes, já foram enganos bastantes
Para entender – eu – quem és.
Pois que não te voltes a antes
Vejo-te hoje mais que nunca, que quase inebria
Com transparência.
Brilhavas de forma translúcida e hoje estrela eminente
Um céu de estrelas sombrias
Pois teu nome ainda é o mesmo
E não mudaste de endereço
Que és bem o corpo de antes.
Mas te tornaste outra, tornou-te.
E nem que eu quisesse, nos versos
Simbolizar tua mudança
Ver-me-ia, então, submerso
Pela tua água, teu todo.
Que não, tu não és, mas estás.
Estás qual o que estavas antes. De tão igual força e apelo
Que em sua diferença é a mesma.
Tornou-te outra, a mesma outra.
És mais que penso, às vezes.
Vejo-te tonta e tola
Acho-te grande e toda
Tenho-te nada ou pouco
Mas ainda te quero, nula, aos pedaços.
Não, quero-te toda em meus braços
Como há de entender a paixão?
Eu quero-te ainda, teu jogo
Vitória é tua, toda tua.
Entrego-te todos os meus pontos.
Não há quem te ganhe em teu campo.
Não há quem se envolva em tua mente
Que não vá sair machucado.
E Outra ou Antiga, não mudas.
És ainda o mesmo perfume, o mesmo tudo que foste.
Sou-te mais que já fui.
Tornou-te outra, de fato
Mas cabe no meu corpo, lato
Que mesmo em teu campo, teu jogo
Se ainda me queres,
Empato