A MIRAGEM (O amor vê tudo até no nada) - Retrô
Vinha sobre as nuvens e sorria em meio ao vento;
Um leve levantar de suas mãos deixavam um rastro dourado levitando sobre o ar;
Ao descer, seus passos eram marcados por uma trilha de folhas verdes;
Ao olhar pra mim, sentia o sol virgem da manhã a beijar meu rosto.
Por onde quer que fosse, eu não podia não querer lhe acompanhar;
Se fugisse ao alcance de meus olhos, me fugiam também toda vontade de viver;
Mas, refletida sua imagem nas águas puras da fonte, de imediato me assediava a sede;
E se nos frutos encostasse a meiga mão, a fome me alcançaria!
A linha do horizonte, ao entardecer, eram as mesmas que desenhavam a perfeição de seu corpo;
E se a noite intentasse assustá-la, lhe desciam as estrelas numa escolta de devoção;
Todas as flores se abriam, no mar ondas calmas, nas florestas as árvores lhe aplaudiam;
Um espetáculo de perfeita poesia, cujo expectador mais privilegiado era eu!
Então ela me tomou pelas mãos e no fechar de sua boca me revelou os seus mistérios;
Me mandou cerrar os olhos e pude ver o paraíso de natureza exuberante, que se esconde no calor de seus seios;
Ela me fez crer na verdade que me enganava e me ajudou a perceber que no meu sonho repousa minha melhor e mais concreta realidade!
Dentro em pouco eu estava voando!
O vento impetuoso que me tocava o rosto, também o mantinha seco de toda lágrima;
A cruel impossibilidade não estava lá em cima, e graças a ela, eu deixei no solo todas as lógicas que dela me afastam.
E só fui parar quando num alto monte, onde não chega o juízo da razão e nem o medo do fracasso, ela me esperava, para me fazer adormecer em seu colo - onde até hoje me acho!!