BRIGA DE CASAL
A palavra fende as pedras,
ofende o silêncio.
Tu me olhas, ferida.
Ergues a voz e gotas
de ferro derretido
respingam em mim.
Dorido, recuo
e reúno forças
e reajo.
Olhamos o outro
em desafio.
Acalmo a voz, mas a fala
é navalha cega na pele
e abre
um talho em teu espírito.
Teus olhos submergem
e lágrimas te lavam.
Súbito, me pergunto:
o que fiz?
Distante de ti enfrento
o meu aziago orgulho.
A teus pés queria estar
e chorar por perdão, mas
uma pedra em meu peito
me faz pensar que ser homem
é ser rígido.
Segues para longe de mim
e é como se fôssemos desconhecidos.
O amor de antes, cadê?
Parado, pétreo, lamento
o tanto que perdi.
E a fúria é um farol a indicar
que minha ilha
é teu corpo
e que não tenho mais
nada.
E em ti, eu sei, arde
a incerteza de o que fazer
com tão puro e candente amor.