DELÍRIO (O amor é feito por grades de transe) - Retrô

Nos pedaços que me restam, conto a história de meu drama;

Episódios repetidos que a cada cena evidenciam fatos novos;

Morador dos ares frios, viajante na solidão de minha cama;

Sou um velho compêndio que se escreve no chorar de meus olhos!

A nuvem escura que em vão projeta sombra contra o sol;

A peneira desgastada que absorve os restos indegustáveis da paixão;

Transe da sobriedade estulta, que me inculta dilacerado em seu rol;

Bulimia humana incontrolada que devora o que indeseja o coração!

Rastros de meus passos inertes, asas sou de meu anjo pecador;

Notas dissonantes que agradam as harpas da mudez que lhes tocam;

Sou nesse meu sono, a insônia que vigia os botões do reator;

Pra detonar as explosões de todas as loucuras que me invocam!

Gritos em mim mesmo, eis as grades que me prendem nesse amor;

Calmo em delirio, sou o teste das vacinas de uma cura vã;

Pintado sem tuas tintas, sou o quadro inexpressivo de odiosa cor;

Tocado por teus beijos, sou criança, adormecido em berço de lã!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 26/03/2009
Reeditado em 26/03/2009
Código do texto: T1506604
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