DELÍRIO (O amor é feito por grades de transe) - Retrô
Nos pedaços que me restam, conto a história de meu drama;
Episódios repetidos que a cada cena evidenciam fatos novos;
Morador dos ares frios, viajante na solidão de minha cama;
Sou um velho compêndio que se escreve no chorar de meus olhos!
A nuvem escura que em vão projeta sombra contra o sol;
A peneira desgastada que absorve os restos indegustáveis da paixão;
Transe da sobriedade estulta, que me inculta dilacerado em seu rol;
Bulimia humana incontrolada que devora o que indeseja o coração!
Rastros de meus passos inertes, asas sou de meu anjo pecador;
Notas dissonantes que agradam as harpas da mudez que lhes tocam;
Sou nesse meu sono, a insônia que vigia os botões do reator;
Pra detonar as explosões de todas as loucuras que me invocam!
Gritos em mim mesmo, eis as grades que me prendem nesse amor;
Calmo em delirio, sou o teste das vacinas de uma cura vã;
Pintado sem tuas tintas, sou o quadro inexpressivo de odiosa cor;
Tocado por teus beijos, sou criança, adormecido em berço de lã!