Braços cruzados
Contenhai vosso desejo, oh, meus braços,
Que clamastes mais que um beijo aos teus lábios
E secos aguardastes aos sabores,
Rachados em meus veixos, não meus fatos
Orgulho putrefato que se verteu em odores
Apartai-vos em segredo, oh, meus braços,
Que aos meus olhos não lhes fatiga fitá-la
Mas separai minha vista do seu corpo,
Pois que se não me caio dado morto
Sobre o seu dorso frágil, por um sopro
Excomungai-vos de mim, oh, meus braços,
O medo, o insensato e o entorpecente,
Que em tempos me manteve caricato
E meus lábios de um veto indecente
Que de silente fez-se implantado
Contenhai vosso desejo, oh, meus braços!
Que seja pena, culpa em nossos laços
Mas não mais hei de proclamar solfejos
E nem mais hei de ostentar no peito
Um distintivo incolor desfeito
Encerrai essa tormenta, então, meus braços,
Que o ser se reinventa em próprios passos
Desfaz-se então na voz adormecida
Desconstruirei o que ainda há em mim,
Que não há de por fim a minha vida