O Meio

Eu, sempre protegido pela afiada armadura

Na treva escura e abissal no fundo do mar de mim mesmo.

Pelo escafandro ósseo e agudo que fere ao primeiro toque

Pelo hostil e dolente escudo que protege dos males –

Fui traído pelas minhas próprias defesas,

Fui arrancado das tais maiores certezas,

Eu, que deixei respirar pelos meus os seus ares

- E onde há transbordado o orgulho

Há faltado a beleza.

Eu, sempre uma chaga em todas as peles,

Sempre uma praga mortal em frutas campestres

Que fortaleza protegida era ao atacar quem longe vinha

E mantinha coagidas as perigosas sirenas do oceano –

Fui traído pelo meu caminho,

Fui enganado por pouco carinho,

E por mim mesmo acima de tudo, eu

- E onde há transbordado o orgulho

Há faltado um sorriso

Eu, morto sem saber e sem sentir

Farto de sorrisos transviados e enganados nos meus olhos.

Que me continha isolado de todo vício, todo ópio

Por quase pena de eu próprio, me deixei provar e viciei -

Fui agarrado pelos braços

Fui tomado por seus passos

E meu rosto se desfigurou

- E onde há transbordado o orgulho

Há faltado um abraço

Eu, já não réu primário desses crimes

Já farsante escapulário de toscos erros

Conhecedor da saliva quente e doce e das dores-cicatrizes

Conhecedor da ferida iminente a cada nova empreitada -

Fui cegado pelos erros meus

Fui arrastado para os braços seus

- E onde há transbordado o orgulho

Há faltado esquecer o Eu,

Para que pudéssemos ter sido Nós.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 22/03/2009
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