O Meio
Eu, sempre protegido pela afiada armadura
Na treva escura e abissal no fundo do mar de mim mesmo.
Pelo escafandro ósseo e agudo que fere ao primeiro toque
Pelo hostil e dolente escudo que protege dos males –
Fui traído pelas minhas próprias defesas,
Fui arrancado das tais maiores certezas,
Eu, que deixei respirar pelos meus os seus ares
- E onde há transbordado o orgulho
Há faltado a beleza.
Eu, sempre uma chaga em todas as peles,
Sempre uma praga mortal em frutas campestres
Que fortaleza protegida era ao atacar quem longe vinha
E mantinha coagidas as perigosas sirenas do oceano –
Fui traído pelo meu caminho,
Fui enganado por pouco carinho,
E por mim mesmo acima de tudo, eu
- E onde há transbordado o orgulho
Há faltado um sorriso
Eu, morto sem saber e sem sentir
Farto de sorrisos transviados e enganados nos meus olhos.
Que me continha isolado de todo vício, todo ópio
Por quase pena de eu próprio, me deixei provar e viciei -
Fui agarrado pelos braços
Fui tomado por seus passos
E meu rosto se desfigurou
- E onde há transbordado o orgulho
Há faltado um abraço
Eu, já não réu primário desses crimes
Já farsante escapulário de toscos erros
Conhecedor da saliva quente e doce e das dores-cicatrizes
Conhecedor da ferida iminente a cada nova empreitada -
Fui cegado pelos erros meus
Fui arrastado para os braços seus
- E onde há transbordado o orgulho
Há faltado esquecer o Eu,
Para que pudéssemos ter sido Nós.