Erosão

Olha o vento!

Passa

Invisível, intocável, passa.

Imparável, invencível, passa

E à vista fraca nada muda em nada

Olho o vento e talvez nos entenda

Não

Olho a aurora a iluminar o dia

Olho o vão na alma, tão profundo

Olho os corpos que vem, vão e passam

Olho os olhos (giram, fecham e choram)

E passam

Passar é natural –

Inevitável

Contudo, os ventos a tremular bandeiras

Só ferem e só rasgam se ficarem

Só ficam se deixamos e queremos

E deixamos ficar –

Mesmo sabendo que passam

Prometem-se mundos,

Juram-se regras,

E não são cumpridas

Nem eu lhe esquecerei de pronto

Nem demorará a me esquecer

Talvez nunca tenha me lembrado

Ou me gostado

Ou me querido

Mas não é a passagem

Nem o não-ter-lhe

Nem o ciúme

Há um crime sério

Contido

Se não diz ao menos a verdade

Se então finge ser o que não

É,

Ou está,

É sombra morta que toma minha alma

É uma marca sobre meu peito

Que marca o meu tic-tac cardíaco

A me apertar

A me espremer

E me fazer parar

De tudo

De todo.

O que me dói não é passar

E nem me afligem os outros

É ser o que nem eu

Nem você

Somos (éramos):

Vento e tempo

Erosivo e corrosivo

Passageiros e mortos e letais

E só

Mais nada

Apenas vento.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 18/03/2009
Código do texto: T1493573