Poema de amor cozinhado

Cozinheiro chegas sorriso entornado,

trazes nas mãos toque apimentado.

Primeiro a sobremesa, um beijo molhado,

e a incerta certeza de um outro aguado.

Segues para a cozinha para descozinhar

o arroz de adivinha e o peixe do azar

Escancaras o lume, na panela de amar

e choras na cebola as dores a tratar.

Refogas as postas pescadas em pelo

e o arroz remexes no nosso cabelo

O vinho encorpado, na boca ao bebê-lo

escorrega, sobe, cai, ai que atropelo…

E a mesa composta de vermelho vivo

tudo à nossa volta eu e tu contigo

e o pão de tão doce, ai doce adjectivo

Tu à minha volta tu em mim, bandido…

E o arroz dançava, madre deus cantava

o peixe sorria, e no molho corava

de tanto brindar a sala espantava

E a janela? A janela abria, fechava…

E tu meu cozinheiro adorado

Na ternura, cozinhada… cozinhado…