D e v a n e i o Sublime
Encontro-me na rua, sozinha.
Sinto cada minúsculo pedaço de meu corpo se contorcer em silêncio.
Cada átomo de célula vibra
E se debate e geme e então espera
Espera apenas por ser a única alternativa, por ora.
Como uma planta não regada
Cujas folhas aguardam ansiosamente jorrar a água sobre si
Cujas raízes sugam devagar os nutrientes do solo para sobreviver
Cujas flores observam a vida se desdobrando à frente e desejam ficar vistosas para viver antes da morte nas mãos de algum poeta que as admire.
Curiosamente sinto falta do que nunca tive
E é a mais pungente de todas.
Porque chegaste sem avisar e sem estardalhaço.
Tu, com tua existência tranqüila e forte,
Em contato breve e sutil com a minha existência intensa e caótica,
Foi capaz de tirá-la do calabouço frio onde se escondia, presa pela dor e pelo medo
E conduzi-la à visão do nobre jardim que se encontra detrás de uma janela qualquer.
Ah, revelaste-me as janelas, não deverias, não deverias!
Não me é possível apenas olhar através delas
Eu salto para fora...
Ainda que não saiba de que altura, ainda que não veja o que há no chão,
Salto num arrebatamento de coragem
Pois não experimentar a possibilidade de haver um novo mundo é a maior das torturas
- ouso desvendá-lo sem nunca conhecer o mistério que o envolve, porém
(Mistério sagrado que nenhum homem pode compreender)
Com olhos vidrados e a alma triunfante
De quem simplesmente arrisca e vive
- e a rua desaparece, de repente.