D I S T R A Ç Õ E S

Às vezes tenho medo, e as palavras somem.

Às vezes fico mudo, e esse medo me devora.

Como se todas as letras fugissem do alfabeto.

Que bom seria se nós escrevêssemos em sânscrito.

Dizem os hindús que são sessenta e duas letras.

Quem sabe, poderíamos achar mais variaveis,

Para descrever o amor?

Mas que amor?

Por acaso tens algum?

Não é justamente por isso que te faltem frases?

Que te falte inspiração para gerar teus versos?

Ah, versos que se foram, que mudaram de poeta!

E agora estão perdidos no éter, vagando entre as estrelas,

Numa sinfonia perdida na noite cósmica,

Procurando quem os pegue no ar e faça deles um soneto,

Uma ode, para descrever o amor que tu perdeste

E não mais procuraste, na desilusão que ainda de doi,

Machuca, roi e aos poucos te destroi, te deixando vazio,

Oco, sem mais nada que constroi, que te enleve,

Preencha o grito rouco, que a tua tristeza consumiu,

Da lágrima que caiu sem ao menos notares.

Mas não desanimes!

Procura noutro coração depositar tuas novas ilusões,

Na busca eterna dessa alma terna, que vai sanar tuas decepções.

Lábios molhados, a boca em chamas, de seios ardentes,

Que teus dedos clamam, mamilos quentes, sal entre os dentes,

Corpos que queimam, ensandecidos no calor sagrado,

Que somente o Criador aos homens deu,

E que na febre das paixões ele perdeu.

Vai amigo, não desanime, pois o amor que julgava perdido,

Está bem aí ao teu lado, como brasa entre cinzas, adormecido,

Nunca feneceu, apenas esmaecido...

Basta uma palavra e ele eclode, explode, como sempre...

Bem resolvido.

L U C I A N O

março/2009