Embriaguez

Embriagado em meu próprio seio

Despeço o ígneo arrepio denso

Dispo a pele bordada em fios tensos

Enquanto a mim mesmo sustento e esteio

- Findo é o corte cicatrizando o ventre

Embriagado em meu próprio seio

Desvirtuei-me de um bafo quente

Desiludi-me de tal barro ardente

E interrompi-me em meu próprio meio

- o ápice do meu centro em mim mesmo

Desembreaguei-me de apenas meu seio

E olhei-te e ao olhar-te só desfiz-me

Como ao escorrer o leite denso e firme

A desbotar do meu corpo os arreios

- A desbotar dos meus quadros coroas

E ao mirar-te em qualquer encanto

Meus olhos cegam e meu peito se esboroa

E os nós dos dedos se desabotoam

Que ao notar-te já desfaço em prantos

- tamanha és tu, pedra do meu ser

Atormentado por minha própria corte

Abandonei o cerne de mim mesmo

E deixei-me viver a toa e a esmo

Para ter em tua vida a minha sorte

- Para ter em teu tormento o meu sossego

Pois és tranqüila em tradução celeste

És lâmpada que se acende e se perpetua

És o pudor de uma deusa nua

És feita da ternura com que vieste

- e tendo-te, terei em ti o paraíso

Pois és da fala o mais certo som

Que irradia em luz o que te ouço

E que se forma em pus no meu pescoço

Por encantar-me em cada nota e tom

- És signo de dúvida, mas de mestria

Pois és da existência o essencial

Que alumia em tons pastéis a aurora

E que se permanece em minhas horas

E jaze como sombra em meu umbral

- como uma sombra branca e radiante

Pois eis que te recordo a cada instante

E que sua pele toca em meu corpo

Como uma seta que almeja o escopo

E deixa a mão segura em um instante

- Eis eu, o alvo, eis tu, a flecha

E mesmo que me morra – agora e aqui

Embaraçado – pois teu nome alteio

Sei eu que morrerei sereno e cheio

Pois morrerei embriagado em ti

- pois morrerei eterno em teu seio

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 11/03/2009
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