lábios errantes
quero lábios errantes
palavras ébrias
soltas e desconexas
quero metáforas
improváveis e perecíveis
numa hipérbole redundante
quero teu verbo
secreto e rufião
a me explorar despudoradamente
quero o farfalhar dos fonemas sibilados
e num cochicho entender a sedução subliminar
e, se nada disso for possível
resta a imaginação
vou saqueá-la, vou seqüestrá-la
e torturá-la com mil e uma possibilidades
inventadas instantaneamente
a girar num corpo sem hemisfério,
sem eixo de simetria
quero a assimetria absoluta
dos sentidos contundentes
quero gritos,gemidos e
grunhidos
ininteligíveis
a falar da razão dos instintos.
falsificando a filosofia da
indiferença
do risco indiscreto das
margens do rio
que já secou.
as montanhas que hoje são pó
das nuvens que foram chuvas
e que já foram lágrimas do Olimpo.
quero nos lábios errantes
ouvir o som de meu nome
e emprestar identidade ao momento.