Cinzas de Solidão

Consciente de estar só,
Atravessei a última noite chorando.
Por sentir a ausência de seu calor,
Sei que chorarei muito, muito mais
Até que me afogue em meu rio de lágrimas.
De nada adiantou dizer: Perdão.
Na sagração de tua glória,
Amadureceste o ouro da vingança ao exigir-me:
Chora-me outro rio,
Tão caudaloso quanto já chorei por ti.
Ah, não queres cálices de minha dor,
Esta última oferenda ferida.
O vento de minha alma
Levar-me-á para as cavernas
Onde há mulheres sobre pedras desertas
A inaugurar novas comiserações,
Novas paisagens sob a lua negra de Lilith.
Lembra! Eu me lembro de meu próprio escárnio
Diante daquele amor plebeu.
Teu olhar transmudado agrava minha presença.
Quero ser tenra transparência à custa do que se foi.
Finalmente, em mim e fora de mim,
Uma sagrada linhagem do sofrer
Inicia um tempo novo,
Quando o verão não mais achará em mim seus cassis:
Apenas cinzas e solidão.

Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 10/03/2009
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