DOIS CORPOS: UM SÓ ESPAÇO
Sabes que a tristeza
É o único bem devoluto
Que não convêm emprestar
E é por isso
Que em certos dias
Prefiro a alienação doce do tempo
Do que contigo estar
Que o sol
Está sempre a brilhar
Mesmo quando há nuvens
Mesmo quando cai a noite
Tenho tanta a certeza que ele lá está
Como tenho a de te amar
E por isso
Deixo-me enlouquecer momentaneamente
Nos braços inconstantes do destino
Esperando
Ou talvez não
Que venhas ter comigo
Substituindo então
Todo o meu dicionário da solidão
Por outros termos
Que me ajudas a inventar
Quando nos unimos
E prometemos
Nunca um ao outro deixar
Promessa transumante
Á qual já me habituei
Embora já tenhamos provado
Que é possível
Dois corpos ocuparem o mesmo lugar
Nas noites em que te apetece
Nas madrugadas mimosas
Em que te levantas
Para partires
E num algures difuso
Voltares…