DOIS CORPOS: UM SÓ ESPAÇO

Sabes que a tristeza

É o único bem devoluto

Que não convêm emprestar

E é por isso

Que em certos dias

Prefiro a alienação doce do tempo

Do que contigo estar

Que o sol

Está sempre a brilhar

Mesmo quando há nuvens

Mesmo quando cai a noite

Tenho tanta a certeza que ele lá está

Como tenho a de te amar

E por isso

Deixo-me enlouquecer momentaneamente

Nos braços inconstantes do destino

Esperando

Ou talvez não

Que venhas ter comigo

Substituindo então

Todo o meu dicionário da solidão

Por outros termos

Que me ajudas a inventar

Quando nos unimos

E prometemos

Nunca um ao outro deixar

Promessa transumante

Á qual já me habituei

Embora já tenhamos provado

Que é possível

Dois corpos ocuparem o mesmo lugar

Nas noites em que te apetece

Nas madrugadas mimosas

Em que te levantas

Para partires

E num algures difuso

Voltares…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 10/03/2009
Código do texto: T1479370
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