DAR A VOLTA POR CIMA
para Silvane Sabóia
Dizes-me e eu anoto:
as minhas pernas
estão
longas como o meu perdão
tantas vezes dei a volta por cima...
A vida, é pois, feita à base do barro:
moldamo-la como plasticina.
O teu corpo é a Torre Eifel
ou a Estátua da Liberdade
na sua perfeita postura.
Dimensiono-o como um desenho
e espalho-o todo pelas paredes.
Eis que reflicto logo no mel
desse sentir surdo, sem o alarde
que nos faz viajar pela loucura.
Aí paro e refaço tudo; mas retenho
no cérebro os rios, as luas, as sedes.
A vida, é pois, feita à base do barro:
moldamo-la como plasticina.
Assim, tudo se decide. É o que me ensina
todo o tempo perdido, o querer ser, o estar,
a experiência irreflectida com que esbarro
sempre que medito sobre o partir ou o ficar
e depois concluo por parar, não fazer nada.
Sei que amanhã tudo recomeçará. Daremos a volta
por cima como cavalos suspensos, à solta,
invadindo-nos os sonhos em mais uma madrugada.
JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES
(inédito. 15.07.04)