BABY DOLL

Sou o príncipe selvagem de uma raça extinta

faço perguntas recheadas de números

sentado na beira do mar noturno

e o céu impermeável

me devolve

a dúvida

Sigo a rota de fuga

fora das estradas

ao longo dos lagos vaporentos

deixo os instrumentos da minha

queda:

sexo, religião e política,

o esqueleto vestido de coringa

toca o sino da igreja abandonada

e as cinzas espalham!

é da vertigem

que se concebe

o pássaro

Armo a tenda estendendo delírios

na planície e mantenho distantes

os demônios atirando nos dados

o eco das chamas na sede,

quando as estrelas subirem

mostrando que céu e inferno

mudaram o desenho dos mapas

vejo você pisando areias evaporantes

rainha cujo baby-doll avermelha

a gula do sol pela fêmea

que se abre do outro lado

do abismo

vejo-te e a noite se espalha

como a canção que celebra

o nosso amor

que só é entendido

no apego do selvagem

pela natureza, porque te amar

é enxergar a sublimidade

aonde é pleno o saber,

em você, meu amor,

eu existo sem roupa

e na liberdade

do merecer

Amar assim

é embrenhar-te num bosque

de encantamento,

e desnudada sobre a pedra dos rituais

oferecer pelo sexo

o sangue que mais divina te embriaga