PONTA DE FERRO
Deleita ao calor vindo,
o corpo que sobre mim se debruça,
languido, balbucia, murmura,
a derrota pelo amor findo.
Entre horas a delícia que fora,
ao cabo curto, espaço breve,
a mão esguia mal se atreve
ao último aceno, ferro ferindo.
Em longa estrada, perde-se em trilhas,
quedando-se ao cansaço, tempo escoado.
Saudade se vê, busca o regresso,
contorno em sonhos, caminho distante,
vagueias ao encontro, entregue e errante.
Se fez o corpo ao meu debruço.
Longo tempo, fim de espera,
no silêncio um murmúrio, quase um soluço,
um pedaço de mim reintegra;
seu todo se faz presente.
Novamente o calor vindo,
a boca amada retida, presa ao beijo,
sem adeus de ponta de ferro ferindo.