NAUFRAGA DE AMOR

Ò boca infame, que proferes e indeferes palavras que ensurdecem meus ouvidos que recusa-se relutantemente a ouvi-las ... lança-te e avanças como punhal que fere e me corta a alma. Como procurar palavras para convencer e dizer sem piedade para eu mesma e para meu coração que tu te fostes para sempre? Aproxima-se enfim o momento derradeiro de encarar a realidade. A hora mais triste do amor é quando ele deve morrer e não temos forças suficiente para matá-lo ... ou então enganar-me dissimuladamente adiando o triste fim? Como fazer para parar o tempo que teima em te levar de mim,calar o grito sofrido de minha alma e abstrair sonetos de amor de lábios um dia desiludidos? Como esquecer todo o amor e o afeto que um dia me destes de forma tão incondicional? como não partir rumo a seu encontro e me lançar sem medo em correntezas atrozes e ferozes, em mares nunca antes navegados em uma expedição insana que me promete encontrá-lo a qualquer preço... como não me lançar ao mar que te trouxe e o levou sem bilhetes de despedida? jogar-me as correntezas sem medo da morte, sem coletes... somente com a indecisa certeza que alço e enxergo além do horizonte, lá no fundo e vejo suas mãos gélidas em um ato desesperado me chamar. juro que o vi... juro que ouvi seu chamado, juro por tudo, por deus por nós, pelo nosso amor que te ouvi chamar-me como o lindo cantarolar das sereias que encantam e depois nos levam a morte, mas por ti e por teu amor eu morreria.... Como naufrago sem porto seguirei nadando incansávelmente até que minhas forças por fim se esvaiam, sem medo, apenas seguindo, remando freneticamente... vertendo por fim até a ultima gota de esperança que ainda me resta. vagarei pelos mares sombrios, solitária, assoviando familiarmente para que como por um milagre ouças e atendas meu choroso e triste e lamurioso chamado. Assim como um ultimato , um suplicio apavorante, desesperado e incessante, como uma extensa e religiosa ladainha, como um terço que se reza sem contas, sem fim... como um apavorante berro ecoando alem da escuridão, dos confins. Abafando e enganando as infinitas horas do marcador do tempo que não passa e se arrasta silenciosamente desde o dia em que partistes. Gritarei até findar minhas forças, até desfalecer palidamente deitada delicadamente em escuros areias, amarrada para conter-me antes que eu por fim também tente insanamente encontrar meu próprio fim. amordaçada para que eu não cante mais o soneto dos atordoados, nem me junte a melodias mortais que se convertem como por encanto, tristes notas musicais que perpetuam-se transformando-se em constante sinfonia de amor. talvez jamais ouvidos, mas eternizados por sua essência. assim é meu amor que embora perdido no calabouço dos navios negreiros da desilusão não morreu. Quisera eu cortar o cordão umbilical da alma por onde sua vida esvaiu-se de mim. ó maldito momento que tu te fostes. por que não lutei? Por que permiti? por que me vi paralisada sem reação, e simplesmente observei sua partida? Parada, inerte, quieta... não tive tempo.... foi tão rápido. não pensei que doesse tanto... achei que suportaria deveras e constante dor. pensei que teria a força de um vulcão, que suas lavras não me queimariam alma nem sucumbiria meu coração. para reverter aquela despedida, muda fiquei... calada chorei... por que não reagi? Por que me fiz cúmplice do destino que me apunhalava sem que eu percebesse? Agora choro, e minhas lagrimas se confundem com as gotas do oceano nada pacifico. Revolto, permissivo. Agora me despeço, jogando mensagens ao mar, quem sabe um dia poderás encontrar em uma garrafa, em alto mar o amor que partiu, mas nunca deixou de te esperar...

Darléa Zacharias
Enviado por Darléa Zacharias em 07/03/2009
Reeditado em 07/03/2009
Código do texto: T1473267
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