COMO VENCER O TEMPO?

Sinto-me mergulhar no labirinto de minhas memórias e no inconformismo de minha extensa vivência. Procuro esvaziar meus pensamentos, mas me visto de saudade. Saudade do que vivenciei, saudade do que não vivi ainda... como isso é possível? Cada vez que olho ao horizonte e sigo em frente, tento desvendar os mistérios do coração e choro cada vez que persigo em vão encontrar um pouco de mim no seu olhar. Choro por que sei que nosso amor não morreu, ele apenas adormeceu para retornar mais forte. Sinto falta de tudo, de ti, de mim... falta do que vivemos e de toda nossa historia que se perdeu. Sinto falta do amor que tinhas a me dar e eu não quis e simplesmente te perdi. A dor não cessa o sentimento não sara a doença não para. O tempo não pode curar o que não tem cura... o que não tem solução e o que não se vai. É perda de tempo eu sei, mas o que fazer? Como estancar o sangue que não para de jorrar? Como impedir que meu coração sangre até a perda total de seus sentidos e com seus batimentos por final encontrar a morte ? como vencer o que é invencível? Como viver tentando acreditar que nosso amor não mais existe? Como abafar a voz que não cala? A dor que não cessa... o amor que me corrói e me destrói. Cada vez que tento fingir que ele não existe ele ressurge mais forte e descompassa meu coração já sofrido de tanto apanhar em função desse amor que adormeceu nos braços da desesperança. Pergunto -me... por que sofro? Por que me sinto triste a vazia? É por que dentro de mim a mentira não pode mais suportar a verdade que não quer calar e me maltrata... me destrói aos poucos. Por que sei que ainda te amo e te amar é o que me mantém viva. Mesmo que seja para te ver de longe... feliz ou não, não tenho certeza...mas já é tarde, já não quero saber se pedras ainda vão rolar, seguirei a vida como ela tiver de ser seguida, sem mágoas e sem falsas esperanças de um reencontro. Eu já perdi a ilusão de um dia reviver nossa historia, aqui nesta vida não... durou o tempo que tinha que durar, acabou do jeito que não tinha que acabar, se perdeu do jeito que não precisava se perder. Talvez um dia nos sentemos e possamos conversar, mas para que falar... os olhos dizem mais do que mil palavras. Basta olhar em meus olhos tristes para ver que morro a cada dia, morro a cada minuto quando te vejo e encaro a realidade que te perdi para sempre... como fui deixar nosso amor adormecer? Como fui capaz de te magoar? Pedir perdão? Já é tarde... o que posso fazer é tentar seguir em frente desfrutando o amargo dissabor cada vez que te vejo, cada vez que meu olhar cruza o seu. Em outros braços você se conforta, mas o que sentes ainda lateja e você contem o sentimento, o medo não te deixa tentar, compreendo... não viverei das lembranças do amor que um dia ruiu, vou pensar em ti com carinho, como aquele que será para sempre o grande amor da minha vida...Hoje sonhei contigo, cabelos ao vento, olhar desnudo, face ocultada por sombras na escuridão.. procurei-te nos rostos alegres em meio a multidão e vi sua imagem passar diante de minha memória devastada pelo tempo, pelos descaminhos... nossas vidas tomaram outros rumos, outros amores... outra vez me pego sonhando e pensando, o que é este ciclo que me faz sempre chegar a estaca zero? Quando penso que me curei, é justamente nesta hora que meu sentimento ressurge e me pergunto... ainda é possível viver este amor? Ainda existe esperanças de ressuscitar este amor que se perdeu? Ou é chegada a hora da eutanásia? Como colar os fragmentos de um coração despedaçado pela magoa e pela decepção? É possível se enveredar novamente pelos caminhos do coração sofrido e calado pelo tempo e pelas desventuras? É possível reconstruir um amor que se escondeu nos escombros da desilusão? Saio agora do purgatório dos amantes, dos incompreendidos, dos famintos de desejo e dos desamparados de esperança. daqueles que foram abraçados pela dor do desamor, dos perdidos . é chegada a hora de mudar, mas pra que mudar? Para continuar solitária e vazia? Pelo menos viver as lembranças do nosso amor me mantém viva e me dá forças para continuar... é -bom saber que ainda estou viva, que sobrevivi. Que continuarei seguindo assim te amando até a morte me levar. Por que seguir vazia se posso seguir acompanhada pela saudade? Para que passar uma borracha no passado e esquecer as lembranças, se somos constituídos justamente das recordações do que vivemos? Se é justamente as coisas que passamos que nos dão a certeza de que estamos vivos. E que não estamos sós? Que nos ensinam a caminharmos rumo a mudanças significativas provenientes do aprendizado do que já fomos. Amar nunca é em vão, nunca é pouco ou demais é simplesmente amor e amor não se explica, vive-se! Como estancar a dor que me converte e me transforma em milhares de fragmentos imperceptíveis? Como não sentir a dor latente que me remete ao vazio que você me deixou? Como não querer querendo, seguir sem pensar amar e sem ser amado? querer sem ser querida? Viver com esta ferida exposta e extensa. Ferida que aflora e desabrocha sempre antes de cada primavera... ferida que vez ou outra me aleija e paralisa. Como caminhar sem pernas, sem apoio, sem meu sustento, sem você minha vida... como matar o que não se pode morrer? O que não sobreviveu, mas ainda vive e lateja, corroí, destrói na intensidade do calor ardente do sol que aquece alma. Queima , dilacera e explode em lagrimas inúteis por não ter como te convencer a voltar... hoje te vi pela fresta do cantinho do olhar dos aflitos. Dos condenados a viver sem a esperança do reencontro. Do calor dos beijos, da essência da alma... como é constante esta dor que se faz forte e intensa. Como é triste e lamurioso o ranger de dentes dos obcecados pelo amor perene e constante, abortado. Como é distante o tempo daqueles que amam. O tempo simplesmente não passa! Arrasta- se como um corpo caído e desmembrado, procurando inutilmente sua outra parte. Será que o relógio dos que amam é diferente? Por que será que o tempo furioso conta sempre a favor daquele que se foi e contra aquele que fica a esperar... o destino dos meus passos é seguir o seu trajeto, quieta, algoz, senil... amar assim deveria ser pecado, com punição o confinamento do esquecimento. Queria ser mandada para outro país, para outro mundo, para outra esfera. Quisera reencontrar-me comigo mesma, feliz em outra dimensão. Encontrar o meu eu perdido, e perguntar-me com ar de curiosidade infantil: ele está aqui? E meu eu sorrir de forma carinhosa e me responder: a quem procuras aqui alem da eternidade? Mas isso não é possível, é só um sonho. Jamais existirá um lugar, uma pessoa, um tempo, que me faça esquecer-te. Por mais que o tempo passe, que a chuva caia, que desabem trovões, sua voz e seu olhar ecoará aqui em meu peito. Mesmo que hoje seja mais leve, sutil, imperceptível. Viverei pensando, imaginando cenas, esperando-te com a calma infinita dos aflitos.

Darléa zacharias

06/03/2009

Darléa Zacharias
Enviado por Darléa Zacharias em 06/03/2009
Código do texto: T1472715
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