Senhora, sem hora
Eu acho que eu te amo
Mas amo um amor de agora, e plenamente
E não daquele amor sereno e bobo
Um amor que eu admito (só) entre dentes
Que não quer amar e ama ao todo
Sei lá, qual esse amor é em palavras
Não há definição para sentimento, eu sinto,
Mas não é aquele amor desses mais jovens
Ou desses mais velhos contos, velhos mitos
Desvendo essa paixão cada manhã
E mais e mais a alumiar meu rosto
E a aluviar a pele e os meus olhos
Freqüentes, crônicos, mais que uma febre terçã
De suor e lágrimas, puros.
Não é daquele amor que jura de joelhos
Que se põe a cantar de olhos vermelhos
E depois não lembra mais a melodia
Não vejo teu nome em todo lugar
Não sinto seu pulmão tomar meu ar
Nem vejo o seu olhar vencer meu dia
Eu acho que eu te amo, simplesmente
Não tem muito motivo mesmo, eu juro
Mas quero repousar sobre o teu ventre
Como a desposar-te qual minha senhora
Mas não é um amor desses que mirram
Que os tempos desgastaram e comprimiram
Até o quase nada que são agora
Mas veja, que o poema não se encontra
Entre os melhores ou piores,
Esse poema não vale,
Esse poema é meu e teu, de mais ninguém.
Não é desses amores encartados
E nem desses que são poetizados
Porque poeta que faz carta de amor
Ou é louco ou está apaixonado.
Não que eu não esteja, não. (estou)
Não é desses amores de dizer
Não diz nem ao que veio para você
Mas diz para mim o bem mais que pode vir
Mas juro que não é desses amores
De um monopólio insano de pensamentos
Não é todo momento
Que penso em ti.
Mas é, eu penso em ti bastante tempo.
É algo meio que inimaginável
Entendo a sua dúvida, a sua parte
E é a mesma pergunta que me abate
Eu acho que te amo, mas não sei.
Não sei que amor é, não é nenhum desses
Mas é amor, eu acho, espero, eu sinto
Eu acho que te amo, eu não minto (agora)
Não sei se somos só amigos
Ao redor de um rio
Sem saber as margens ou o caminho
Talvez sejamos mais: amantes
Ou loucuras de Cervantes
Entre Dulcinéia e o moinho
(já disse que esse poema não conta
E as metáforas não contam
E não conta nada?)
Mas é que a ansiedade crônica
E toda não-britânica
Faz-me ter que me antecipar
Entenda, por favor esse meu ponto
Entenda essa explicação que eu conto
Eu acho que eu te amo, hoje e agora
(e quem se importa com o que vem ainda?)
Enquanto eu planto o germe dessas rimas
O risco de perder-te me devora
Por isso escrevo em versos no poema
O que diria em um telefonema
Só peço que me entenda,
Isadora.