SEM MOTIVOS
Como primavera viestes florescer
este jardim já colhido pelos anos.
Chegastes ao meu repouso,
delicadamente contraístes meus anseios.
Foi dormitar, foi pousada... entre eflúvios,
interrompidos pelos cisnes de cetim negro,
embalsamados pela noite,
que deslizavam pelo asfalto.
Foi manhã, contra a vidraça,
os primeiros raios de sol;
vi reflexos em teus olhos.
Repousei em teu colo... repousei!
Serenamente naveguei pelo teu corpo
perdendo-me em teus cabelos.
Ouvistes em murmúrios, meus apelos.
Te confiei meus segredos,
confiastes os teus.
O ocaso se fez presente com tua já ausência.
Se fora com o dia, deslizastes antes que fosse
embalsamada pela noite.
Sem querer, sem motivo,
enxuguei uma lágrima que deslizou pelo rosto,
antes que caísse, antes que pela noite fosse embalsamada.