O ASSUM PRETO E OS DOIS POETAS PALHAÇOS
Hoje, estava eu só em meu ninho,
quando de longe, e bem afinadinho,
ouvi o canto triste de um Assum Preto.
E sentindo que o meu doer com o dele faz dueto,
não consegui resistir o atrevimento
de ir-me infiltrando devagarzinho,
pra também cantar nesse momento.
Pois, quando entrei e cheguei bem pertinho,
ainda encabulada e cantando baixinho,
senti no peito, disparar minha pulsação.
E mal pude segurar a danada da emoção
quando de repente, tomei conhecimento
que o Assum Preto era o meu padrinho
numa cantiga de amor, dor e sofrimento.
Respeitosamente fui entrando no seu compasso
e já lhe mostrando o meu coração em pedaço,
larguei dizendo-lhe: _ Estás vendo, meu dindinho?
O meu também está mordido e crivado de espinho.
E um dia atrás do outro ele me dói tanto, tanto...
Que em desespero, já nem sei mais o que faço
a não ser chorar quietinha no meu canto.
Então, o meu padrinho, que é muito mais que meu amigo,
soluçando me respondeu: _ Diga-me que mais posso eu fazer,
já que sofremos do mesmo mal, senão chorar também, contigo?
E eu respondi: _ Por favor, me dá um abraço e vamos juntos orar.
Vamos pedir ao bom Deus que tenha piedade de nossa sorte,
apressando, e enviando logo, essa tal de dona morte
pra esses dois poetas palhaços que muito sabem amar,
mas que, até agora, não aprenderam a esquecer.