Lira Orféica

Não basta o chão e o sal

E um eclipse formado redondo sobre nossos ossos

Como um anel em espírito sacro,

E os músculos estirando-se em um ritual

Lógico e geométrico

Tolamente calculado

Não basta o chão e o sal.

E o beijo não basta mais. Não basta o lábio

Não diz nada abaixo não diz.

Se são palavras na garganta que não fazem mal

Se são palavras não beijos

Nem lábios

Não basta a vontade e a voz

E a onda que suga nossos corpos, pele

Nossa mente verde e verdade

Os não maduros frutos em nós

Não vale o que não basta

Não basta o chão e o sal

Não basta escrever e ler

Não basta ler. E as pedras que furam

Nossos passos, nossos pés, minhas costas

Não basta ser ou não ser

Se ser é um tombo ribanceira abaixo

Se é um calor, um frio, um feixe, um facho

Não basta saber ou sentir

E o meu lábio não obedece um padrão

Se arqueia e alonga brando

Esticado em um banho de saliva

Ímpar como exato

Como praxe, como farto

Não basta mais vida

Não se basta em si

Não basto eu em mim

E o seu interior me esfola, me entrega em um jogo

Ao contrário, ao avesso, minha pele se lambe, se queima

O meu corpo se vê, se enrosca e se degola

Não basta o chão e o sal

Não existe o que baste, nem o que vai bastar

Só existimos dois. Só existimos nós.

E arcos, são setas, são arcos, trincados, rachados,

Borrados, arcos,

Toca-me leve, sensível, toca-me

Toca-me e faz em mim vida, como se fez luz

Como se faz de tanto, tanto

E de nada, nada

Como não se faz. Como se faz do vento o vento.

Só toca-me. E me fará pleno, enquanto sou pleno

E penso-me nada, de tão pleno.

Só toca-me e me fará todo.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 27/02/2009
Código do texto: T1460510