REGRESSO

Vês, aqui me tens,

sempre retorno sem saber a razão,

o por quê desta necessidade de falar-te.

Talvez solidão num misto de fantasia,

ou quem sabe uma constatação

enraizada, feita de ansiedade.

O fato é que tenho que estar aqui,

encoberto pelas fugas, em busca de refúgios.

Transpiro, transcrevo, detesto, mas sempre retorno

aos recôncavos mais profundos,

é uma busca constante,

até mesmo contrastante,

pois nem sempre escrevo o que penso,

como não penso o que escrevo;

as palavras brotam, são fertéis,

delineando as pautas num imenso,

farto testamento de frustrações,

legados, talvez ao nada, sem amplitudes,

sem anseios maiores.

Jogo com as pautas, tocando-as,

fazendo-as sensíveis ao poder da pena

em tinta ou mesmo na penalizada,

pelo estar só no momento,

na madrugada já quase fria.

Sempre volto, pode esperar,

mas... um dia sei que estarás só.

Sucumbirás então sob a mesma saudade

que me traz de volta e que me levou

pela brisa, pelo tempo, pelo pó.