ausência

Eu sinto um beijo quente enquanto eu durmo

Um toque molhado junto da minha boca

Uma voz suave, nada sensível

Nada rouca

Quase nula, quase fina, quase louca

Eu vejo um gesto escuro enquanto fecho os olhos

Como um quadro móvel preso nas minhas pálpebras

E sua mão desenha-lhe contra meu rosto

E se derrete, se desmalta, se defaz

Eu sinto um suspiro perpassar meus músculos

Perpassar doce minha nuca, meu cabelo

Penetrar tímida na minha pele, nas minhas narinas

E me encher de paz e vida: de você

E a minha sombra projetada na parede

É a companhia, o contraponto do seu corpo

E tão sozinho, tão vazio, tão poeta,

O corpo é nada, é decomposto

Segura os dedos. Segura a minha mão de novo

Sinto-me leve, descarado

É submisso, é descontente, é solitário

E é tão inconstante que nem me permite métrica

É tão funesto, é tão triste, chega a tétrico

E faz das muitas boas palavras apenas letras

Eu sinto aqui uma pavorosa descrença

Insegurança, medo, não sei mais o que

Eu sinto aqui, junto a meu corpo uma presença

É o que esconde a ausência de você

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 21/02/2009
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