Vão-se
O sol esmaltava o oceano vazio
Que desenhava ondas fortes sobre as rochas costeiras
E o horizonte pintava ilusões passageiras
Para os dóceis marinheiros que tripulavam o navio
Um teatro fantástico a beira do porto
Iluminava os atores pintados no rosto
E roubava risadas das tímidas faces
Dos senhores pudicos e de ótimos gostos
Preocupadas senhoras de hábitos pobres
De rostos vazios e úmidos malares
Que abanavam seus lenços de muita alvura
Cujas lágrimas refletiam os raios solares
E as mentes perdidas em devaneios sem eira
De guerras sangrentas em terra estrangeira
E as armas em riste que aguardavam seus corpos
E as moças viúvas que aguardavam seus mortos
E mais homens e homens então se despediam
Suas mães, suas mulheres, choravam, sorriam
E um riso nervoso, e um beijo melado
Davam tchaus ou adeus aos homens que partiam
E as nuvens no ocaso cobriam o sol
Iluminavam os rubros e fúlgidos lábios
Que refletiam em suas mentes o arrebol
Tão vermelho e vivo como o fluido sangue
E as cordas desfizeram os laços
E o barco deslizava para longe do cais
Tantas moças e tantos rapazes,
Tantos rostos que iriam se encarar jamais