Sombra


Quem não se lembra
da minha parede?
Parecia uma rede
que prendia, me retinha.
Nele havia um retrato, um rosto.
Aquele sorriso na boca beijada,
aqueles olhos esverdeados
quase que a mão bordados
mirando os meus.
Neste rosto, hoje decomposto,
marcado pelo tempo voador
que lança o jugo da mão que afaga,
pela outra que chicoteia.
A parede dorme vazia
no quarto desperto para recepções,
nas festas das insônias
cheias de fumaça, rasgando
ou delirando pelas vielas das madrugadas,
descobrindo, procuras segredos,
desbotando enredos,
histórias comuns, participantes
ativas ao meio, introduzidas ao contexto.
Somos eternos e banais;
eu, meus sonhos, os desacertos
e esta ávida questão
de ser, pelo que não deveria ter sido.
Um marco negro em tantas vidas
e por ter de uma vida,
tanta luz recebido.