UM AMOR CEGO QUE BRINCA COM O TEMPO…
Sou cego
Tanto porque não vejo coisas
Que não me deixam
Não consigo
Ou não quero ver
Esperando que a noite se faça dia
Quando anoitecer
Navego, mais ao menos aos repelões
Num paraíso intransmissível de sentidos
Pois a minha cegueira
Tem todas as cores do mundo
Quando estás comigo
E no entanto…
Se me perguntares se te vejo
Eu digo que sim
Vejo-te neste mundo
Em todas as suas diferentes dimensões
Vejo-te noutros lugares
Onde nunca conseguirás chegar
Vejo-te
E é essa toda a força portentosa
Do meu difusamente concreto amar
Vejo não vendo
Para além do tempo
Para além de qualquer espaço
Vejo
E por isso conto histórias
Que nunca ninguém contou
Vejo coisas
Que o tempo levou
Ou há-de levar
Nos seus braços inamovíveis
Das vontades humanas
Vejo-o
E sorrio
E falo-lhe
Quando ele por mim costuma passar
E peço-lhe só uma coisa
Para longe de mim
Ele não te levar…