UM AMOR CEGO QUE BRINCA COM O TEMPO…

Sou cego

Tanto porque não vejo coisas

Que não me deixam

Não consigo

Ou não quero ver

Esperando que a noite se faça dia

Quando anoitecer

Navego, mais ao menos aos repelões

Num paraíso intransmissível de sentidos

Pois a minha cegueira

Tem todas as cores do mundo

Quando estás comigo

E no entanto…

Se me perguntares se te vejo

Eu digo que sim

Vejo-te neste mundo

Em todas as suas diferentes dimensões

Vejo-te noutros lugares

Onde nunca conseguirás chegar

Vejo-te

E é essa toda a força portentosa

Do meu difusamente concreto amar

Vejo não vendo

Para além do tempo

Para além de qualquer espaço

Vejo

E por isso conto histórias

Que nunca ninguém contou

Vejo coisas

Que o tempo levou

Ou há-de levar

Nos seus braços inamovíveis

Das vontades humanas

Vejo-o

E sorrio

E falo-lhe

Quando ele por mim costuma passar

E peço-lhe só uma coisa

Para longe de mim

Ele não te levar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 12/02/2009
Código do texto: T1435552
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