AMOR
AMOR
J.B.Xavier
Que meus gritos não te firam os ouvidos
Na eternidade desse silêncio ao qual me condenaste
E se em minha eterna condenação não pensaste,
Não te firam agora esses meus versos desvalidos...
Não te cheguem à alma essa minha tranqüila inquietude
Com que assisto da frisa do tempo o último ato dessa insensatez
De ter te amado, na idolatria de um amor que o tempo não desfez
De ter resumido o universo no vazio dessa desesperançada plenitude...
Que meus lamentos não te maculem a aurora
Que ainda nascerá para o triunfo de teus ensolarados dias
E que minhas tristes e decantadas elegias
Não te revelem meu trajeto nesse caminho sem luz vida afora...
Não se levantem meus lamentos para te ferirem - antes,
Cheguem ao teu universo apenas meus sorrisos,
Para que te lembres apenas dos indescritíveis paraísos
Pelos quais caminhamos em nossa eternidade de instantes...
Que tudo ao teu redor cante a vida, sobre a qual tanto me ensinaste,
E que esses versos, e tantos outros sempre incompreendidos
Não te tragam tristezas nem sobressaltos aos sentidos...
Pois ainda és minha alegria, na tristeza do silêncio ao qual me condenaste...
* * *