Pecados

Do que me vale a liberdade santa

Se ainda há olhos para me olhar de banda

Quando o que eu faço ou digo não convém?

Melhor seria ter de carcereira,

A solidão cruel, mas passageira

Seria minha, ao menos, de mais ninguém

Pois se eu somente tranço os seus olhares

Com meus olhares, mesmo que discreto

É tragédia qual o descarrilar de um trem

Pois se palavra qualquer dia digo,

Que não ouse chegar ao seu ouvido

Pois meu castigo será, em muito, além

Da imaginação do mais cruel autor

Que desnodoa os dedos com o horror

De cenas de suplícios colossais

Do que me vale a liberdade esquiva

Se entre nós há ainda a cerca viva

Que nos separa qual dois animais?

Melhor seria se como os de Verona

Restássemos sobre a mesma terra santa

Da onde iríamos nos levantar jamais!

E qual metades frias de Carraras

Em nosso findo leito, cara a cara

Repousaríamos em nossa gruta em paz

Do que me vale a liberdade burra

Se a vaidade é uma besta escura

Que crava os dentes na carne de meu ser?

Devora-me por inteiro, minha esfinge

Decifra-me parte a parte, mente e finge

E eu finjo que não penso em você

E essa liberdade gaga e rouca

Aflige o meu peito de repente

Como uma chama quente a tremer

Do que me vale estar em sua boca

Se nem seu nome cabe em minha mente

De tão grande pecado que é te ter

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 11/02/2009
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