Eu rebelde em mim!

Poet Ha Abilio Machado. 240287.

Qual deles?

Não sei!

Somos talvez órfãos nem sei

Me sussurraram que somos criaturas

D’um criador esmerado

Me fulminaram com adversidades

Que somos frutos de deuses entediados

Que confusão me fazem,

Me vomitam em nome do passado

Depois me mostram retratos de um deus

Com olhos coloridos, cabelos longos

Se na sala ao lado me mostraram que não é próprio da região...

Chegue perto, mais perto

Olhe em mim e veja se há semelhança

Se há da figura exposta uma imagem em mim

Que me rebele... Eu rebelde em mim!

Se tudo isso é assim

Por que ainda choro?

Por que ainda tenho medo?

Quando pirralho me adormeciam com promessas

Que um deus me falaria em sonhos

Que num dia de tempestade apareceria para me salvar

Salvar de quê?

Se foi ele quem criou a tudo

Seria ele como uma criança que cansou de brincar

Que arranca os braços dos bonecos

Deixa sem roupa as bonecas

Nos cola numa placa de isopor a um trabalho escolar?!

Salvar de quê?

Se a única ação em minha infância

Foi viver e amar.

Até hoje fico à espreita

Ele não me veio falar

Alguns retornam em palavras pérfias

O que passa é ele quem quer

Para que aprenda

Aprender o quê?

A chorar?

Se só o que vivi até hoje foi oferecer

Vida e amor

A quem quiser dar e a quem quiser receber

Será que ele me acalantaria na manhã de calor

Acordado suado do sono ruim

Com o pesadelo do fim?

Será que me cobraria por sonhar assim

Por questionar assim?!

Nas palavras que leio

Atendem e discordam de deus

Dizem que há nele um eu

Então serei eu deus também?!

Minhas duvidas perduram

Os dias migram

Eu emigro aos anos

Me sinto perdido nas páginas do destino

Sem nexo à procura do puro que exista em mim

Tentando livrar-me do profano que existe em mim

Busco minha bênção e minha redenção

Quem mo dará?

Serei eu meu próprio escritor

Serei eu meu próprio lapidador...

Deflagra em mim as explosões do eu

Na procura encontro o que em mim?!