De vez em quando
Às vezes o silêncio em si se basta
E em um sorriso só se entrega
O motivo, e o que não caberia em palavras
Às vezes, não é o berro quem triunfa
Nem o sussurro quem sucumbe
Quem ganha é o nada sonoro, é a palavra desenhada
Nos olhos
Ás vezes, o som em si não diz
E o olhar só atordoa,
Ou o olhar desvia e mostra o que quer mostrar
Ás vezes, só cabe ao toque o que é do toque
E o não tocar pode ser mais que tudo,
Sofrido, mas inspirador
Às vezes, quem muito fala fica mudo
E quem muito observa não vê nada
E nada mais se encaixa nos seus pedaços
Não há mais espaços, não há mais buracos
Ás vezes o final do começo é o começo do final
Muitas vezes não é.
Às vezes não é questão de não enxergar, mas de não querer
Nem sempre se quer ver o dobro das cores,
Ou todas as cores
Nem sempre se quer saber de tudo.
Ás vezes saber de tudo é subjetivo,
Como os sentimentos são subjetivos.
Ás vezes não.
Nada é sempre. Tudo é Ás vezes.
Ás vezes a comunicação pode ser nula
E só a elevação do cabelo sobre a orelha
O movimento dos braços ao longo do corpo
O ângulo entre a cabeça e os ombros
Os dedos inseguros se apoiando um no outro
Ás vezes só os movimentos, ou a falta deles,
Podem ser mais eternos que mil imagens
Que um milhão de palavras
Ou que algumas centenas de versos
Inúteis como o Sempre.
Sonoros como o Ás vezes.
Ou duplos, como o Eu e o Você.