Sobradinho ao pôr do sol...

(Poet ha Abilio Machado. 020897)

O lábio que sussurra pequenas poesias

Ensaiadas ou não... Ainda tiram-me o repouso

As mãos que me excitavam ainda colocam-me aceso

Com os instintos a cravarem-se

Na imagem que carrego

A qual o cheiro, o sabor

A umidade dos corpos colados...

No sorriso que explode de repente aos lábios

Lábios ressequidos pela falta dos seus...

E as entranhas implodem numa angustia sem fim

A garganta trava, o meu grito... O meu grito fica

Estancado ao peito e fico mudo

Ouço a voz meio cantada

A tua pele bronzeada

Uma gota fugaz salta dos olhos

Amargurado em solidão!

Em toda a madrugada só há um desejo,

Uma só vontade

De ter esse ser que me tortura ao lado

Nem que seja por apenas um por do sol

Um rolar na grama

Um amasso no sofá...

Procuro pela casa vazia

Os caminhos que percorro sinto falta

Das mãos dadas, dos passos juntos

Éramos passos únicos

Onde foi que se perdeu?!

Onde fui que te deixei?!

Usávamos a mesma batida

Neste sofredor coração

As tardes éramos um só beijo

Um abraço em pele

O mesmo copo d’água...

Nem sempre fazíamos sexo

Extremo e voraz

Às vezes deitávamos na rede ao chão

Olhando os raios do sol da tarde

Em Sobradinho

Com apenas um aperto de mãos...