ÊXTASE
 
Em palavras doces, suaves, escrevi o sonho que de meu coração brotava.
Não tinha papel, não tinha bico de pena. Por isto escrevi com carvão;
Escrevi meu verso de amor no chão. Versos roucos, tímidos, e soluçantes;
Soluçantes, pois, as dores eram muitas, que no meu peito não cabia;
meus versos ...
Tingidos pelo sangue, que de minha mão escorria, juntou-se ao desvão, que o carvão, no chão fazia. Meus versos... de puro êxtase, carcomidos pelo som dos gritos, que ao meu ouvido chegava,
foram versos desesperados, nunca lidos, do chão logo varridos.
E assim minha vida de poeta, se fez, entre martírios, risos e escárnios, versos malditos!
 
Clamou ainda meu coração, por muitos dias; até que da vida   me despedi, fui morto e ao chão, onde escrevi; meu corpo foi lançado e desprezado, de vermes foi repasto,
Não chorei! Não! Não lamentei; olhei cada ação daqueles que me decompunham, e os senti, abracei-os, meus irmãos de sina, pisados e esquecidos!
 
Reto no andar, díspar no sentir. Sou um fantasma, espírito lúcido e tenaz
Sem correntes e sem elos, sou poeta e grito meus versos; ouçam...
Ouvidos moucos! Sou poeta, rijo na palavra e forte no querer, blasfemo, pagão!
Sou poeta!  E nestas terras, sinto - canto, e digo:
Angola, meu berço; minha casa destruída, minha memória varrida,  
Sou sim, um poeta! Vi mares, homens, agudas dores e chorei, por cada ação, de mãos que sem compaixão, partiam sonhos e recolhiam meus irmãos.
 
Rezo minha reza, agradeço meu pai e saúdo meus irmãos; poetas d’África  
No sangue, no murmúrio, aqui estou, na sombra dos vossos dizeres,
Nas lagrimas de vossas incertezas, no vosso futuro, na vossa pele,
Nas vossas letras romanceadas, no vosso sentir de doces encantos,
Meus encantos. Sou Poeta!



(Êxtase -
Estado d’alma em que os sentidos se desprendem das coisas materiais. Enlevo)
 
Olimpio de Roseh
Enviado por Olimpio de Roseh em 04/02/2009
Reeditado em 05/02/2009
Código do texto: T1422443
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