NÃO TENHO ANGÚSTIA

Não tenho angústia suficiente

para re-escrever com lágrimas

o rio de minha vida.

Apenas observo.

E absorvo.

Todos os dias algo novo

se mostra em mim.

Uma palavra, a voz

de quem está do outro lado

da linha.

Entendo que não é possível

saber de tudo.

Do que sei

guardo um ritmo mínimo,

como um coração que tamborila.

Estou vivo,

decerto porque nunca fui natimorto.

Se estou morto,

quem parou para notar?

Amo até o limite do vexame:

interessa-me o azul da tua vergonha.

Interessa-me o dia de teu beijo

e a cor de teu seio direito

exposto ao sol.

Não tenho angústia.

Apesar da dívida imensa,

algumas moedas ainda

teimam em dançar em meus bolsos.