Bolinha de gude
Edson Gonçalves Ferreira
Ao entrar em casa, o Menino estava sobre o tapete
Jogava bolinha de gude sozinho, aproveitando o marrom do tapete
Então, perguntei-Lhe por que estava tão só
Respondeu-me que estava brincando com seus amigos imaginários
Como eu faço quando viajo na Internet
Expliquei-Lhe que vocês, amigos, existem de fato
Aí, neste momento, Ele me disse que os deles também
Pensava na chuva que caía
Pensava nos meninos que não tinham um telhado para se abrigar
Pensava nos meninos que não tinham uma bolinha para jogar
E, gentilmente, convidou-me a brincar com Ele
Sentei-me no chão, feito sapo, como faço desde criança
O Menino caiu na gargalhada
E disse que eu era uma piada
Você tem as pernas de boneco de pano, Poetinha
Jogamos bolinha de gude durante um tempão
Enquanto eu jogava, falava com Ele a respeito dos meus problemas
Depois de um certo tempo, Ele levantou-se depressa e me disse:
Pardal, Pardal, você lutou para ter tudo o que tem e mereceu
Quando você lamenta, lamenta o que todo ser humano lamenta
Até eu que assumi a dimensão humana, passei por problemas
Não tenha medo, a vida é, sempre, eterna aventura
Aproveite a ventura de ter saúde e ter família e amigos
O amor é a coisa mais inadiável da vida
Quando você estiver com meu Pai, lembrar-se-á disso
E, dando-me um beijo nos cabelos, desapareceu
Recolhi as bolinhas de gude, coloquei-as na caixa
E fui tomar um banho gostoso, lembrando-me de você
Sim, de você que, agora, lê minhas palavras amorosas
Sacralizadas na poesia
Essa que faz parte da liturgia do ser
E cuja verdade é irrefutável.
Divinópolis, 02.02.09