O AMOR É TERNO
O AMOR É TERNO
J.B.Xavier
Meus lamentos são mais tristes,
Meus versos já não têm luz
Minha história se reduz
Aos momentos em que existes...
Minhas lágrimas são tuas
Meus sorrisos são quimeras
Minhas horas são esperas
Minhas noites não têm luas...
Meus sorrisos são tristezas
Os meus passos arremedos,
Tuas idas são meus medos
Teus sorrisos, asperezas...
Tuas mãos são meus tormentos
Nos carinhos já perdidos
Eu sou um dos esquecidos
Que te teve por momentos...
Mas já foste estrela-guia
No meu céu todo estrelado
Nos caminhos que ao teu lado
Foram meus mais belos dias...
Tu já foste o burburinho
Do regato na floresta,
Quando com minh’alma em festa
Fiz de ti meu próprio ninho...
Que fui de ti eu nem sei...
Talvez um títere solto,
A rolha no mar revolto
Neste amor que te ofertei...
Foste de mim o oceano
Onde singrei tempestades,
Foste as mais lindas verdades
E meu mais cruel engano...
Fui de ti não mais que um cravo
De lapela, que enfeitando,
Lentamente vai murchando...
Fui de ti reles escravo...
Tu já foste minha vida
Quando um dia o teu sorriso
Me levou ao paraíso
E depois à despedida...
De ti fui só fantasias
Uma mera extravagância
Uma perene inconstância
A descontruir meus dias...
Foste meu mais belo sonho
O mais divino presente
Foste o silêncio eloqüente,
O meu futuro risonho...
De ti fui meros brinquedos
Com os quais te divertias
No vazio desses teus dias
Zombando desses meus medos...
Já te prestei vassalagem
Dando-te tudo o que eu tinha:
De ti fiz minha rainha
Sendo eu tua criadagem...
E mesmo assim tu brincaste
Com meus sublimes momentos
Zombando dos meus tormentos...
Oh, deus! E quanto zombaste!
Segui-te ao redor, a esmo,
Fazendo-te minha princesa
E por não ser realeza
Dei-te, por fim, a mim mesmo...
Em troco me deste nada,
Nada de ti concedeste
Por tudo que recebeste
De minh’alma apaixonada...
Tentei te dar universos,
E pela vontade minha
Eu te dei tudo o que tinha
Amor, coração...e versos...
Devolveste-me em galhofa
O que te dei com amor
E aumentado minha dor
Sorriste um riso de mofa...
Te dei também meu regaço
Soergui-te muitas vezes
Expulsei os teus revezes
Ofertando-te meu braço...
Já de mim te retraías
E ao sorrir de minha dor
Tu sorrias sem ardor,
Sem saber que me perdias...
Tu foste por um momento
O sol que me dava vida,
A promessa que convida,
A luz do meu firmamento...
Mas em ti fui atrapalho.
No jogo da tua vida,
Sei que fui, nesta partida,
Carta fora do baralho...
Quando foste liberdade
Eras luz no meu viver,
Tu eras meu próprio ser,
Meu mundo e minha verdade!
Tu eras o meu fervor
Na crença que em ti eu tinha,
Se foste minha rainha,
Fui eu o teu grande amor!
Foste a esperança imanente
Como agora és a prisão
Deste pobre coração
Que busca por ti somente...
E meus lamentos são tristes,
Meu verso já não reluz
Minha história se traduz
Aos momentos em que existes...
Hoje sei que és prisioneira
Do teu mundo de saudade
Lembrando a felicidade
Que ofertei-te a vida inteira...
Mas seguiste tão veloz...
Segue então teu caminhar,
Que eu continuo a te amar
Enquanto eu viver, e após...
* * *