Estéril
Como rocha, granito.
De ventre seco, me vejo.
Nada de amor tenho dito,
Nas palavras que não escrevo.
Onde está o louvor
Pelo tanto que já fizemos?
Por tudo que viveremos,
Pela dimensão do teu amor?
Porque de mim se furta
O poder de encantar?
Terá o amor, liberto,
Ao meu corpo dominar
Minha inspiração encoberto?
Não. Não apaga-se assim a chama.
Minhas entranhas vibram, melódicas,
E em meu peito um verso clama:
-"Libertai as frases pródigas"!
Mas, meus olhos não se desocupam
De contemplar os teus.
Eu até tento, por Deus!
Mas, até o fim relutam.
E com que mãos hei de fazê-lo
Se minhas palmas,
Como fundidas a tu'alma,
A ti prendem-se com desvelo?
Por isso falo-te em palavras nuas
E quentes como as carícias nossas.
Compreendas que a inspiração e vida
Com que a ti cantava, não mais as possuo;
São agora tuas.