Estéril

Como rocha, granito.

De ventre seco, me vejo.

Nada de amor tenho dito,

Nas palavras que não escrevo.

Onde está o louvor

Pelo tanto que já fizemos?

Por tudo que viveremos,

Pela dimensão do teu amor?

Porque de mim se furta

O poder de encantar?

Terá o amor, liberto,

Ao meu corpo dominar

Minha inspiração encoberto?

Não. Não apaga-se assim a chama.

Minhas entranhas vibram, melódicas,

E em meu peito um verso clama:

-"Libertai as frases pródigas"!

Mas, meus olhos não se desocupam

De contemplar os teus.

Eu até tento, por Deus!

Mas, até o fim relutam.

E com que mãos hei de fazê-lo

Se minhas palmas,

Como fundidas a tu'alma,

A ti prendem-se com desvelo?

Por isso falo-te em palavras nuas

E quentes como as carícias nossas.

Compreendas que a inspiração e vida

Com que a ti cantava, não mais as possuo;

São agora tuas.

Jairo Borges
Enviado por Jairo Borges em 01/02/2009
Reeditado em 21/04/2010
Código do texto: T1415854
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