O AMOR E SEUS DOIS MUNDOS
Por mais que se exclusivize a consciência, toda singularidade é plural;
Até o partidarismo não é parcial, até os unicismos são hipócrita dualidade;
Com o amor, que não costuma admitir sua metade, eu aprendi que é igual;
Um isolacionismo dual, um lado congelado e outro que lhe arde!
Mas a premissa não é lógica, pois o amor também não é;
Ele descrer com fé, seu ferimento veste a rigor a dialética do afeto;
Dá à luz um abortado feto, avança marchando em ré;
Às vezes nem se trata do que é, noutras de si mesmo é desafeto!
Em seu primeiro mundo, sobrevive o amor do puro realismo;
Mas não é fatalismo e sonha muito além do que lhe impõe o visual;
Não é que seja teatral, o fato é que até das pedras extrai lirismo;
Também não é leviandade ou cinismo, ele de fato surrealiza o real!
Em seu segundo mundo, sobrevive o amor da pura ilusão;
E cai no fosso fundo da contradição, porque vislumbra seus concretos;
Quando idealiza os próprios tetos, sente-se inquilino do porão;
É o passageiro da abstração, rendido aos muitos logicismos incertos!
Portanto todo amor é dois, viaja entre a percepção e o imaginário;
No primeiro seu ponderar é lendário, no outro seu delírio inexiste;
A felicidade do amor é triste, seu dia bom não se avista em calendário;
É sagrado como o santo sudário, é o maior pecado que existe!