O AMOR E SEUS DOIS MUNDOS

Por mais que se exclusivize a consciência, toda singularidade é plural;

Até o partidarismo não é parcial, até os unicismos são hipócrita dualidade;

Com o amor, que não costuma admitir sua metade, eu aprendi que é igual;

Um isolacionismo dual, um lado congelado e outro que lhe arde!

Mas a premissa não é lógica, pois o amor também não é;

Ele descrer com fé, seu ferimento veste a rigor a dialética do afeto;

Dá à luz um abortado feto, avança marchando em ré;

Às vezes nem se trata do que é, noutras de si mesmo é desafeto!

Em seu primeiro mundo, sobrevive o amor do puro realismo;

Mas não é fatalismo e sonha muito além do que lhe impõe o visual;

Não é que seja teatral, o fato é que até das pedras extrai lirismo;

Também não é leviandade ou cinismo, ele de fato surrealiza o real!

Em seu segundo mundo, sobrevive o amor da pura ilusão;

E cai no fosso fundo da contradição, porque vislumbra seus concretos;

Quando idealiza os próprios tetos, sente-se inquilino do porão;

É o passageiro da abstração, rendido aos muitos logicismos incertos!

Portanto todo amor é dois, viaja entre a percepção e o imaginário;

No primeiro seu ponderar é lendário, no outro seu delírio inexiste;

A felicidade do amor é triste, seu dia bom não se avista em calendário;

É sagrado como o santo sudário, é o maior pecado que existe!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 29/01/2009
Código do texto: T1411001
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